Como no texto de Clarice Lispector, eu tinha uma mão invisível que segurava a minha. Essa mão tornou-se uma companhia tão sublime que me fazia sentir reconfortada por ser sozinha. E quando essa mão invisível desapareceu em núvem, senti falta dela. Uma saudade monstruosa. E como um monstro, essa saudade me devorava. Me devorava com os seus dentes finos e agudos de silêncio. O monstro me devorava e eu continuava viva.
Essa mão invisível, que eu imaginava atrelada a minha, era uma mão atenta. Uma mão atenta e sem corpo. Uma mão atenta, mas decepada do livre arbítrio. A mão era o que eu queria que ela fosse. E quando eu menos esperava, descobri que essa mão era a solidão materializada. Comecei a ter mais medo dessa mão do que de fantasma.
Tornei-me a covarde mais corajosa para enfretar a mão invisível. E antes do fim dessa batalha, já havia um morto. Um morto porque nunca foi vivo. A mão tombava em silêncio. O silêncio de núvem que me transpassava. A mão estava morta e não morria. E eu estava viva e não vivia.
Passei a viver, e a mão deixou-se morrer. Morta e em silêncio. E eu viva e em paz.
Que toda solidão seja um auto-conhecimento e não um abandono de si.
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Sobre o blog
Este blog é um esforço lúdico para (re)elaborar a experiência amorosa. O amor na música, na memória, no cinema, na literatura, ou no "acaso".
É aqui que eu planto o meu silêncio e vejo brotar arte.
É aqui que eu me reinvento e abro espaço para o novo chegar.
Futures amores, sejam bem-vindos!
Leia o Manifesto.
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1 comentários:
Que bonito isso. Solidão não é castigo, é redenção...
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