FUTUROS AMORES

Um blog sobre amor, arte e acaso.

6 de jul. de 2011

A cegueira

Postado por Priscila |

"A suprema felicidade dessa existência é ter-se a certeza de ser amado; amado por si mesmo, ou melhor, a despeito de si mesmo;essa convicção tem-na o cego. Em tal angústia, ser atendido é ser acariciado. Falta-lhe alguma coisa? Não. Perder a vista e ter o amor não é o mesmo que estar cego. E qual o amor! Amor inteiramente feito de virtude! Não existe cegueira onde existe certeza. A alma, às apalpadelas, procura outra e a encontra. E essa alma, encontrada e provada, é uma mulher. Uma mão nos sustenta: é a sua mão; uma boca roça de leve a nossa fronte: é a sua boca; ouvimos bem perto de nós uma respiração: é ela que está a nosso lado. Depender completamente dela, ser o objeto de seu culto até a mais sincera piedade, jamais sermos abandonados, ter tão doce fragilidade a nos socorrer, apoiarmo-nos a esse bordão seguro, tocar com nossas mãos a Providência e como que tomar em nossos braços esse Deus palpável, que êxtase! O coração, celeste flor obscura, sente-se possuído de uma arrebatamento misterioso. Ninguém trocaria essa sombra por toda a claridade do mundo! Essa alma angelical lá está, incessantemente; quando se afasta, é para voltar; desaparece como um sonho e reaparece como uma realidade. Sentimos um calor que se aproxima; é ela. Como transbordamos de serenidade, de alegria e êxtase; somos um raio de luz dentro da noite. E as inúmeras delicadezas. Nadas que se tornam enormes em todo esse vazio. Os mais inefáveis acentos da voz feminina usados para nos embalar, suprindo assim todo um universo desaparecido. Sentimo-nos acariciados por uma alma. Não vemos nada, mas nos sentimos adorados. É um paraíso nas trevas."
(Victor Hugo - Os Miseráveis) 

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