FUTUROS AMORES

Um blog sobre amor, arte e acaso.

26 de nov. de 2012

Todas as suas cartas de amor

Postado por Priscila |

Magali, 

eu te escrevi inúmeras cartas longas, mas nunca te entreguei. Limitei as minhas falas aos pequenos cartões festivos, as dedicatórias de livros e aos guardanapos de restaurante. 

Eu nunca te ofertei uma palavra dos meus escritos mais íntimos, das minhas denúcias mais dolorosas, dos meus sonhos mais puros... Na verdade, não sei se essa será mais uma das minhas cartas que você nunca lerá. 

Eu te escrevia, mas tudo era tão melancólico que não valia a pena te enviar. Você nunca entendeu o meu silêncio. E eu não te culpo. É que até para explicar é difícil. Então, serei objetivo: escrever dói. Nem sempre foi assim. Não sei onde me perdi, mas escrever dói. Dói como reumatismo. Dói como dor de ouvido. Dói como dor de barriga em hora imprópria. Dói. Mas, só consigo aliviar essa dor enfrentando-a. Por isso continuo escrevendo.

Certa vez, por um milímetro de coragem, li para você um dos meus escritos. Disse que era de um autor desconhecido. Você soltou um "hum..." tão sincero, tão longe do agrado, que achei melhor parar por ali. 

Talvez você fosse mais caridosa se soubesse quem era o autor. Ou talvez não.
Talvez eu devesse ser mais perseverante e te escrever mais uma vez... Mas...
Ah, Magali! O que estas cartas te acrescentariam?

Como cego no escuro,
Pedro

***
 ***

Pedro, meu amor!

Só hoje vi, amarfanhado em meio as suas coisas, uma pilha de epístolas que você nunca me permitiu conhecer... Pena que tenha levado tanto tempo. Amei você profundamente sem imaginar o tamanho da sua angústia! Não sabia o quanto se sentia só. Não fui capaz de reconhecer os seus sinais... Como eu teria te amado ainda mais se tivesse lido todas essas cartas!

Pedro, meu amado,  me dói imaginar que sentia falta de mim, mesmo estando ao meu lado... Que sentia sede de troca, e não acreditava que poderia beber nas águas de minha compreensão. Não me lembro do dia em que, desavisada, resmunguei monossilábica a sua tentativa de aproximação... Oh, meu amor! Não foi por mal. Por que não brigou comigo? Por que não chamou a minha atenção? Por que não fez, pelo menos, cara de insatisfeito para que eu soubesse o quanto esse gesto estúpido te feriu? Infelizmente, não tive a oportunidade de me retratar.

Desde que achei as suas cartas, leio uma por dia, antes de dormir, para que eu te ame mais... 

Pedro, você me faz uma falta enorme e, onde quer que esteja, quero que saiba que nenhuma das suas cartas foram escritas em vão.

Com amor, 
Magali

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