Lucy, sentada numa cafeteria com sua amiga de infância, tenta entender:
-- Pagie, eu tenho certeza que fiz tudo certo. Que eu dei o meu melhor. Mas porque estou me sentindo um lixo?
-- Porque você acreditava que dando o seu melhor seria o suficiente. Só isso.
-- Nunca é suficiente, né?
-- Nunca.
-- Eu dei o meu melhor e ainda riram da minha cara chamando isso de "falta de amor próprio". Eu fiz as coisas com tanto gosto! Simplesmente porque gosto de ver os outros felizes. Agora, quando tenho o primeiro impulso de fazer algo, sempre me vem na cabeça aquela cena e logo perco a vontade. É um instinto de preservação.
-- Não te condeno. Não sei como seria se estivesse no seu lugar. As pessoas escolheriam melhor seus comentários se elas soubessem o tamanho da dívida que contraem.
-- Não, não há dívida. Foi só um comentário infeliz.
-- Você é quem pensa! O comentário gerou mal estar, e daí, dificilmente você estará próximo dessa pessoa. Enfim, a boca imprudente acaba de ganhar um desafeto.
-- Não quero ser desafeto de ninguém!
-- Então quer ser afeto?
-- Aí, já é demais, né?
-- Viu?
[Silêncio]
-- É insuportável a lembrança do episódio, Pagie...
-- Uma hora esse mal estar passa...
-- Espero!
-- Amiga, a sensação que tenho é que qualquer ato de doação, de renúncia, por mais simples que seja, é falta de amor próprio. Eu me sinto como se estivesse me traindo. A minha vontade é manter tudo no módulo "econômico", entende?
-- Entendo, mas não tenho respostas pra isso. Só desejo que -- com o tempo -- a solução apareça.
-- Assim seja!
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Este blog é um esforço lúdico para (re)elaborar a experiência amorosa. O amor na música, na memória, no cinema, na literatura, ou no "acaso".
É aqui que eu planto o meu silêncio e vejo brotar arte.
É aqui que eu me reinvento e abro espaço para o novo chegar.
Futures amores, sejam bem-vindos!
Leia o Manifesto.
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1 comentários:
"Amiga, a sensação que tenho é que qualquer ato de doação, de renúncia, por mais simples que seja, é falta de amor próprio. Eu me sinto como se estivesse me traindo. A minha vontade é manter tudo no módulo 'econômico', entende?"
Essa é a tentação do cinismo, uma armadilha que já esfriou muitos corações. Fujamos dela agarrando-nos à esperança -- que nos dá a fortaleza e reaquece o coração -- e à razão -- que põe limites aos excessos de uma generalização apressada a partir de uma experiência particular.
Nem Cristo nem Buda, nem Gandhi nem Martin Luther King, nem Kardec nem Francisco, entre outros, cederam a ela e ajudaram a enriquecer o mundo. Sejam nossos faróis nos momentos de mágoa. Amanhã é outro dia.
Um beijo,
R.
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