Hoje o dia nasceu cinza. Naquela
tom mais difícil de definir. Ter a si mesma já é um ganho tão grande e, ao
mesmo tempo, tão pesado. Pensei escrever inúmeras cartas. Pensei em narrar uma
história. Pensei compor uma música. Mas hoje, até para conseguir isso, teria
que fazer uma força extra.
Estou cansada. Minto, estou
exausta.
A quem estou querendo enganar?
Tem um monte de entulho, poeira e vidro quebrado e eu brincando de “faz de
conta que...”
Faz de conta que estou saindo de
férias.
Faz de conta que está fazendo
sol.
Faz de conta que acredito nisso
tudo.
Eu sou uma grande mentirosa... Querendo
fazer poesia com uma coisa tão feia!
Meu Deus, como é feio!
Queria que um raio de luz caísse
sobre a minha cabeça e apagasse toda essa feiura! Que eu voltasse a ser ingênua
como uma criança a ponto de simplesmente acreditar e sair cantando...
Mas – meu Deus! –, como...!?
Defloraram a minha alma com um
estupro...
Violentaram meus galhos de rosa e,
apesar de ainda parecer uma rosa, estou tão desajeitada, tão cheia de
espinhos... E não me venha falar de minhas cores, de meu perfume... Isso, Sras.
e Srs., é figurino e maquiagem. O otimista pouco atacado pela vida diria: “— Alegre-se!
Você sobreviveu!” E eu responderia com o meu silêncio: “— Sobreviver não é tudo.
Tá vendo essa pereba? Sempre será uma pereba. Ela também sobreviverá comigo. Tá
vendo esse osso quebrado? Ele também sobrevive em mim e dói quando o tempo fica
frio e cinza como hoje!”
Eu sobrevivi. Mas o que eu
tinha de mais puro e belo está destruído. Só tem cacos que eu tento o tempo inteiro
transformar em um “lindo” mosaico... Sou um Frankenstein de mim mesma.
Estou exausta. Ter a si mesma é um ganho muito
grande, mas nessas condições, é muito pesado.
1 comentários:
um frankenstein de si mesma.
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